Home / Blog / Por que diabos mudamos as capas?

*Por Daniel Lameira e Luciana Fracchetta

“Porra, Aleph, todo ano vocês vão lançar uma capa diferente dos mesmos livros?!”

Bom, a gente tenta fazer na Aleph algumas coisas que não são comuns no mercado de livros: falamos e recomendamos obras de outras editoras (oi, 34, Todavia, Ubu), mandamos a real quando não temos dinheiro para fazer as coisas, dividimos nossas angústias com vocês e, como já notaram, mudamos muito nossas capas.

Para quem não viu, agora foi a vez do Androides sonham com ovelhas elétricas?, um dos nossos queridinhos, e Laranja mecânica, o livro mais vendido da editora. Vamos falar mais sobre isso ali embaixo, mas antes…

Outra coisa que a gente tenta fazer é dividir o que pensamos e por que tomamos algumas decisões (e assumir que eventualmente podemos estar errados e mudar de ideia no dia, mês, ano seguinte).

Poderíamos dar várias explicações bonitonas sobre essas mudanças, mas a verdade é simples: a gente ama os livros e enjoa das capas; e, felizmente, não somos reféns de uma lógica cruel que existe no mercado livreiro, que é baseada em lançamentos a toque de caixa e esquecer os livros de catálogo.

Enquanto algumas editoras tem 1000, 3000, 7000 livros em catálogo, a Aleph, uma editora independente, tem cerca de 120 livros. Cen-to e vin-te. Daria para escrever neste artigo do Medium todos os livros que publicamos, e lembramos exatamente de como fizemos cada um deles.

Apostamos em um marketing contínuo não só focado em lançamentos ou “no que vende”. Falamos com o mesmo entusiasmo de cada um, tentamos convencer os livreiros, influenciadores, jornalistas e, mais importante que tudo, os leitores, de que cada uma dessas obras é importante e única.

“Ah, mas por que vocês não gastam essa energia e dinheiro lançando um livro novo?!”

Choramos um pouco ali no cantinho e voltamos. Não tem ninguém com mais vontade de lançar novos livros do que nós. Já lemos um monte de histórias incríveis, já contratamos alguns títulos que não saíram, tem livro traduzido só esperando chegar a sua hora. Mas a realidade, como diz um grande autor nosso, simplesmente não vai embora.

Temos que fazer contas, analisar riscos, tentar entender qual o melhor passo baseado no cenário do mercado, no momento financeiro da Aleph, planilhas, ver quais livros ainda estão nos dando prejuízo, que são alguns… podemos chorar mais um pouco?

Comparar uma mudança de capa com um lançamento de algo novo não faz sentido, e vamos explicar o porquê.

Nós mudamos a capa quando o livro está esgotado ou quase, ou seja, não temos mais em estoque e teríamos que reimprimir de qualquer forma. Investimos em média 3 mil reais para dar uma nova roupagem a ele. Isso não apenas ajuda a chamar atenção de um público novo, como também a dar uma nova chance entre os livreiros que, por talvez não gostarem da capa anterior, deixaram de expô-lo.

E claro que parte da mudança também se relaciona com as trocas de perspectivas que nós próprios temos. O que achamos bonito para o agora talvez não seja bonito para outro momento. Até porque a visão da arte e do design se transforma, nossas referências mudam, descobrimos artistas incríveis e visualizamos possibilidades novas.

Lançar um livro novo, dependendo do tamanho, pode custar R$ 30 mil, em vez de R$ 3 mil, e isso para correr um risco que, infelizmente, não faz sentido para nós agora. Livrarias fechando, dívida milionária para nos pagarem. Vamos fazer 5.000, 3.000 exemplares de um livro novo que, pelo cenário, é provável que nos dê prejuízo?… A conta é fácil. Algumas editoras com caixa baseado em best-sellers, financiamento estrangeiro ou de bancos conseguem; aqui com a gente é na raça, mas não dá para ficar vacilando também.

Outra coisa: muitas das decisões tomadas não são baseadas no nosso próprio gosto. Adriano, dono da lojinha, e nós aqui já batemos no peito nos orgulhando de não usar o título “Blade Runner” na capa do livro e nos mantermos fiéis ao que o autor idealizou, por exemplo. Mas depois de algumas CCXPs e de ver como o mercado evoluiu, percebemos que diversos leitores não fazem ideia de que esse livro existe e está ligado ao filme, apesar do nosso trabalhinho modestamente eficiente de colocar uma cinta e fazer posts explicativos. O resultado você já sabe.

E o que custa testar? Para quantas pessoas novas vamos apresentar o PKD? Será que alguém vai começar a ler ficção científica a partir daqui? Para lavar nossa culpa, mantivemos o título original na quarta capa e fizemos uma nota do editor explicando a mudança.

Pode ser que daqui a 4 anos, olhemos um para o outro e demos risada do que fizemos, como fazemos hoje com decisões antigas. Ou não: podemos ficar empolgados porque o número de vendas do PKD aumentou e, finalmente, vai ser mais viável publicarmos títulos menos conhecidos do autor.

Sabendo como isso irrita, criamos há alguns anos o Total Recall! Nele é possível trocar suas edições antigas — da Aleph ou não — pelas novas com 50% de desconto. E todos os livros recebidos são doados para escolas ou bibliotecas públicas. Para conhecer sobre o programa, é só clicar aqui.

Bem, esse texto não é para vocês não reclamarem das mudanças. Vocês não imaginam como nós brigamos aqui dentro entre nós com essas mudanças, mas no fim concordamos que, se for para brilhar um olhar novo para as estrelas, vale a pena.

Não sei qual foi o seu primeiro contato com a editora, mas talvez tenha sido com um livro que estávamos relançando, reinsistindo, redivulgando. Neuromancer foi lançado pela primeira vez em 1992 e só em 2018 ocupou o posto de livro mais vendido do ano por aqui.

Este ano é o momento de arrumar a casa, olhar, ouvir e, se junto com a arrumação pudermos encantar alguns novos leitores com capas novas de livros que já amamos, vai ser lindo. Se pudermos fazer isso com a confiança e o carinho de quem já nos acompanha, melhor ainda. São 35 anos de história esse ano, e queremos mais 35, com calma, paixão e lembrando de cada detalhe de cada capa que fizemos.

Ah, estamos contratando novos livros de forma mais ousada do que nunca, e vamos um passo por vez, com vocês, aprendendo a cada ano como contar histórias no futuro.

– Clique para comprar as novas edições de Laranja mecânica e de Blade Runner.

*Daniel Lameira é editor na Aleph, especialista em ficção científica, historiador e autor do quadrinho Garota GalácticaLuciana Fracchetta é coordenadora de conteúdo na Aleph e professora de marketing digital.

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