Home / Blog / Estamos vivendo em uma distopia?

*Por Maria Clara Villas

Pandemia, fóruns na internet lotados de conservadorismo, reconhecimento facial: às vezes você se sente na abertura de um filme de ficção científica, naquele desenrolar de cenas mostrando o que aconteceu com a humanidade até chegar naquele ponto da distopia? Bom, você não está sozinho. A sensação é que cada vez mais o nosso presente se mistura com futuros imaginados por escritores e roteiristas – e daqueles bem criativos! 

Não à toa que a procura por conteúdos de ficção científica cresceu no último ano. Segundo o Google Trends, a busca dos internautas pelo gênero aumentou cerca de 25% após o começo da pandemia do novo coronavírus, como mostrado nesta reportagem do Nexo: “Leitores estão recorrendo à ficção científica por ela ser a única a retratar o mundo em grande escala e a única que fala da totalidade do presente.”. Mas por que recorrer à ficção científica em tempos difíceis? O gênero nos mostra alguns caminhos que a humanidade pode tomar e nos faz imaginar futuros possíveis. O termo “estranhamento cognitivo”, criado pelo escritor iuguslavo Darko Suvin, nos ajuda a entender um pouco desse comportamento: ao transformar algo que nos é familiar em estranho, o gênero nos dá uma capacidade cognitiva de compreensão do nosso mundo.

A distopia, em particular, é um termo usado como subgênero da ficção científica, onde é imaginado um lugar, uma época ou uma sociedade onde se vive de forma precária e com muito sofrimento. Normalmente é marcado pela falta de liberdade, baixa qualidade de vida, desigualdade, condições ambientais adversas e a deturpação da tecnologia. É o oposto de uma utopia, onde temos um futuro perfeito com condições ideais.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Será?

Apesar disso, a ficção científica não tem a obrigação de prever o futuro, o que não quer dizer que muitas vezes não o faça. O filósofo Alexey Dodsworth comenta neste vídeo algumas coincidências e previsões que foram confirmadas: o escritor Arthur C. Clarke, autor de 2001: Uma Odisseia no Espaço, parece ter acertado uma porção de coisas sobre nosso presente. Gadgets e telas de entretenimento até a própria chegada do homem à lua aparecem no livro de 1968. Já alguns livros são um prato cheio para qualquer vidente, como é o caso de Neuromancer, que em 1984 já imaginou computadores pessoais, hackers e até inteligência artificial. O que dizer do Grande Irmão, descrito por George Orwell em 1984? E claro, não dá para deixar de fora o filme Contágio, de Steven Soderbergh, que é praticamente um documentário perto dos acontecimentos do último ano. 

Mas qual o segredo da ficção científica que imagina o futuro e vira realidade? Nesse texto, Christian Dunker afirmou: “a ficção científica representa um gênero peculiar, não porque se baseie em “fatos reais”, mas porque ela é uma história que “ainda” não é de-todo-verdadeira, mas que pode vir a ser.”. A palavra Fictio, em latim, quer dizer hipótese e são essas hipóteses sobre um futuro, otimistas ou pessimistas, que acabam servindo de inspiração para o desenvolvimento tecnológico e científico. 

A distopia na cultura pop

Mas por que a distopia faz tanto sucesso na cultura pop? Assistir o cenário fictício do pior caso possível pode ajudar a construir resiliência. Em um estudo de 2020, psicólogos descobriram que pessoas com “curiosidade mórbida” em temas de terror ou pandemia desenvolveram melhor resiliência mental durante o confinamento, “usando a experiência de baixo risco de assistir a um filme para desenvolver habilidades emocionais e práticas de enfrentamento“. A verdade é que consumir conteúdos sobre futuros distópicos nos ajuda a ser mais resistentes à realidade e a conseguir enxergar saídas possíveis para os obstáculos que com certeza vão aparecer no nosso caminho: seja um vírus mortífero, governantes totalitários ou algoritmos que conseguem ler nossas mentes. 

5 distopias para todos os gostos

Years and Years (2019)

A série começa com a reeleição do ex-presidente americano Donald Trump e explora os quinze anos seguintes de uma família de classe média da Inglaterra, mostrando um futuro sombrio e infelizmente bem realista.

Conto da Aia (1985)

O aclamado livro de Margaret Atwood virou série de TV e assusta pela semelhança com a ascensão do conservadorismo nos últimos anos. A trama se passa em um Estados Unidos que sofreu um golpe religioso e vive em um regime conservador que oprime e abusa de mulheres.

Mad Max (1979 – 2015)

A franquia de filmes mostra um futuro árido onde a violência e a guerra por combustível e água dominam a narrativa.

Show de Truman (1998)

Nem sempre um filme distópico precisa ser sobre grandes guerras e governos totalitários, mas com sutileza conseguem prever o futuro e nos fazer pensar sobre o nosso presente. É o caso de Show de Truman, filme estrelado por Jim Carrey que mostra a vida televisionada de um sujeito comum sem ele saber. Toda a febre dos reality shows que viria alguns anos depois é a prova que nós humanos adoramos sentar na frente da TV para observar a vida alheia.

Wall-E (2008)

A animação da Pixar pode enganar à primeira vista, parecendo um filme fofo sobre robôs, mas na verdade mostra um futuro onde, após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera com gases tóxicos, a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave.

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*Maria Clara Villas é produtora de conteúdo, leitora assídua e apaixonada por assuntos como espaço, cultura pop e tecnologia. Ela assina a Diário de Bordo, a newsletter da Aleph.

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